quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Aquilo

— De uns tempos para cá, eu só penso naquilo.
— Eu penso naquilo desde os meus, sei lá, 11 anos.
— Onze anos?
— E. E o tempo todo.
— Não. Eu, antigamente, pensava pouco naquilo. Era uma coisa que não
me preocupava. Claro que a gente convivia com aquilo desde cedo. Via
acontecer à nossa volta, não podia ignorar. Mas não era, assim, uma
preocupação constante. Como agora.
— Pra mim sempre foi. Aliás, eu não penso em outra coisa.
— Desde criança?!
— De dia e de noite.
— E como é que você conseguia viver com isso, desde criança?
— Mas é uma coisa natural. Acho que todo mundo é assim. Você é que
é anormal, se só começou a pensar naquilo nessa idade.
— Antes eu pensava, mas hoje é uma obsessão. Fico imaginando como
será. O que eu vou sentir. Como será o depois.
— Você se preocupa demais. Precisa relaxar. A coisa tem que acontecer
naturalmente. Se você fica ansioso é pior. Aí sim, aquilo se torna uma angústia,
em vez de um prazer.
— Um prazer? Aquilo?
— Pra você não sei. Pra mim, é o maior prazer que um homem pode ter.
É quando o homem chega ao paraíso.
— Bom, se você acredita nisso, então pode pensar naquilo como um
prazer. Pra mim é o fim.
— Você precisa de ajuda, rapaz.
— Ajuda religiosa? Perdi a fé há muito tempo. Da última vez que falei
com um padre a respeito, só o que ele me disse foi que eu devia rezar. Rezar
muito, para poder enfrentar aquilo sem medo.
— Mas você foi procurar logo um padre? Precisa de ajuda psiquiátrica.
Talvez clínica, não sei. Ter pavor daquilo não é saudável.
— E eu não sei? Eu queria ser como você. Viver com a perspectiva
daquilo naturalmente, até alegremente. Ir para aquilo assoviando.
— Ah, vou. Assoviando e dando pulinho. Olhe, já sei o que eu vou fazer.
Vou apresentar você a uma amiga minha. Ela vai tirar todo o seu medo.
— Sei. Uma dessas transcendentalistas.
— Não, é daqui mesmo. Codinome Neca. Com ela é tiro e queda.
Figurativamente falando, claro.
— Hein?
— O quê?
— Do que é que nós estamos falando?
— Do que é que você está falando?
— Daquilo. Da morte.
— Ah.
— E você?
— Esquece.
Luiz Fernando Verissímo
em Sexo na cabeça

Muito bom e vi aqui (No Lúria Pura, proibido para menores de 18 anos).

15 comentários:

Unknown disse...

Te convido a participar de um grupo no face de divulgação de blogs. Está bem legal, aguardo a tua visita. https://www.facebook.com/groups/405760246235096/

te esperamos lá ;)

Unknown disse...

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Cris disse...

sabia dsdeo começo que não era uma resposta tão óbvia...

Flávia disse...

Os mal-entendidos da vida... Rs

Thoughts-little-princess.blogspot.com

Pérola disse...

A mente tende para o que mais nos diz.

Um texto bem estruturado.

Beijinhos

jair machado rodrigues disse...

Taí um cara que admiro pra caramba, o Luis F. Veríssimo...uma exemplo dos mal entendidos, por ruídos de comunicação que estamos sujeitos, quando não somos muito claros e objetivos no que queremos dizer. Palavras. Muito bom o texto.
Caro Cristiano, gostei daqui e muito obrigado por tua visita.
ps. Carinho respeito e abraço.

Natália T. disse...

Ah nãããão, Cris! Eu já estava toda empolgada pra comentar quando você me brochou no final! hahaha! Eu ia comentar ''owww, muito bãããão, esse ficou digno do LFV!'' quando vi q EH do lfv.. rs..

Ele é ótimo mesmo =)

Gabi disse...

hahaha muito bom mesmo!

Miguel Alexandre Pereira disse...

A vida está cheia de mal entendidos, vivemos num mundo de meias palavras e por vezes acabamos por andar a falar de coisas completamente diferentes. Gostei deste post, dá que pensar!

http://ummarderecordacoes.blogs.sapo.pt

Zilani Célia disse...

OI CRISTIANO!
INTERESSANTÍSSIMO ESTE TEXTO DE VERÍSSIMO.
BOA ESCOLHA.
ABRÇS

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Cambaxirra disse...

É a velha e boa "comunicação truncada", hehehe.

Teorias de Gi disse...

kkkkkkkkkkkkkkk penso muito na morte e em como vai ser, sei la é estranho pensar em um mundo sem nós, mas estamos aqui e um dia teremos que ir.
Bom post ri muito ;)

Inaie disse...

quase foi parar no puteiro sem querer

Unknown disse...

Engraçado esse Fernando xD

Bah disse...

Sacanagem tá na cabeça de quem é auhauahua

Kisu!