Continuação do conto: No Carro
Ele não sabia quanto tempo ele ficou naquele lugar, ele só
sabia que chorou como nunca tinha chorado. Ele usava uma expressão quando se
chorava muito: "Chorei até esquecer o porquê estava chorando". E lá dentro do porta-malas do carro ele viu
como era boba essa expressão ou como ele tinha chorado por coisas bobas, mas a
quase morte não era um motivo bobo para chorar. Os olhos já estavam acostumados
com o escuro ele já enxergava as coisas dentro do porta-malas, ele reconhecia
até o macaco ou coisa parecida.
Mas ele ficava parado, ele queria gritar, ele queria chutar
o porta-malas. Mas o medo ainda o paralisava. E se eles voltassem? Ele de repente
ficou pensando se visse o magrelo em uma situação normal nem teria reparado
nele. E se o magrelo arrependesse e voltasse para acabar o serviço?
A sensação que ele tinha que eles não eram experientes, de repente
ele pensou que talvez eles estivessem em uma prova de iniciação como ele lera
nos livros policiais que ele gostava de ler de uns anos para cá.
O silencio que chegou a doer foi dando lugar ao barulho de
bicho e o som era abafado, aos poucos o porta mala ia ficando quente. Ele de
repente começou a pensar o porquê ele não conseguia chutar, o porquê ele não
conseguia gritar. Parecia bobo, mas ele lembrou um papo de autoajuda que as
pessoas gostavam de falar de um tal de elefante e da corda que o mantém preso
desde filhote e quando o elefante cresce a corda não faz muito sentido, mas o
elefante ainda fica lá.
Ele sempre achou que isso era mentira, porque mais cedo ou
mais tarde o elefante iria se soltar em um movimento. O suor já começava a molhar a roupa, o porta-malas já estava
inferno. ele viu que teria que fazer alguma coisa...
Começou a chutar o porta-malas... Chutava como toda a força
que tinha, mas o barulho não era muito empolgante. O primeiro grito veio abafado... Um urro mesmo. Nada de
socorro! Um urro meio besta, meio infantil. Na esperança de alguém o encontrar.
Ninguém o encontrou.
.Vida de Merda.
6 comentários:
Nossa,Cristiano,até eu fiquei sem ar,só de ler esse teu post.Forte.
E a melhor expectativa é não a ter.
Dizem que somos nós que fazemos a nossa vida.
Para mim, não é assim.
Há tantos condicionantes que não dominamos.
Beijos.
P.S. Uma bela leitura.
Oi Cristiano
Seu comentário me comoveu, fiquei imensamente feliz em lhe proporcionar esses lindos sorrisos
Olhe para trás, veja a pobreza de espírito que têm muitas pessoas que até da vontade de chorar
Muito obrigada pela visita
Lua Singular
Deve ser aflitivo mesmo!
Não sei se o estar preso na mala do carro é "metáfora"....
mas a aflição é notória....
logo eu, que sou meia claustrofóbica ;)
bj
Deve ser aflitivo mesmo!
Não sei se o estar preso na mala do carro é "metáfora"....
mas a aflição é notória....
logo eu, que sou meia claustrofóbica ;)
bj
Também estive por aqui "curtindo" as suas postagens. Os textos são bons porque você é um bom ourives. Voltarei outras vezes. Aproveito para agradecer-lhe sua visita.
Grande abraço,
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